quinta-feira, 3 de março de 2016

A culpada

Outubro de 2015, a revista Exame tinha estampada na capa a seguinte frase "7 demissões por minuto". Desconforto é pouco para traduzir tudo o que essa situação pode causar.

Um dos momentos mais delicados da entrevista de emprego é quando procura-se entender os motivos de saída dos lugares. Esse ponto é fundamental para entender um pouco como funciona o processo de escolha do candidato, como ele lida com situações adversas, além de justificar o histórico profissional.

Porém se torna delicado (por vezes constrangedor- pra quem pergunta e para quem responde)... As pessoas tem medo de dizer a verdade (o que pode se tornar muito pior) ou preferem falar rápido por ter sido um tema difícil de lidar. Normalmente esse constrangimento acontece quando a pessoa foi desligada.

Ninguém se sente bem ao ser demitido, mas refletir sobre a situação é fundamental. O momento deve servir como avaliação e identificação de pontos a serem melhorados, para que na próxima não aconteça.

Quem já estava no mercado de trabalho entre 2008 e 2009, foi de alguma forma impactado com a crise que aconteceu no Brasil, como consequência de uma recessão muito mais forte nos Estados Unidos. E quem foi desligado da empresa nesse período, ainda que não tenha tido relação nenhuma com a crise, tem resposta pronta nas entrevistas de emprego.

2015, uma forte crise chegou. Ela bateu na nossa porta de leve em 2013 e nós escancaramos a porta em 2015. Veio então a avalanche de demissões. De acordo com a revista de outubro de 2015, o índice de desemprego estava em 7,6% no mês de agosto do mesmo ano. Na época, o índice de inadimplência não havia subido, ainda restava alguma economia e esperança.

No caderno Economia do jornal O Estado de São Paulo de domingo (28 de fevereiro de 2016) nota-se que esse cenário já mudou. A inadimplência aumentou de forma agravante nos serviços básicos (luz, água) e serviços de comunicação (telefonia e televisão a cabo). Na reportagem, o presidente de uma empresa de cobrança diz que a necessidade de manter o cliente na base, tem feito as empresas se tornarem mais flexíveis na negociação.

No mesmo caderno do último domingo, outra matéria nos mostra como o cenário é grave. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo estima que 245 mil trabalhadores formais serão demitidos em 2016. Isso porque houve uma redução de 8,6% nas vendas de varejo ampliado (varejo restrito, veículos e material de construção).

Já sabemos que o cenário não é positivo, que a tendência esse ano é piorar, mas que em 2017 as coisas vão começar a melhorar (2010 foi um ano de alta de empregos, de uma certa forma até desproporcional). Pois bem, se você foi atingido pelo desemprego por conta da crise, é importante que você a entenda para conseguir lidar melhor com ela.

Temos no Brasil uma questão muito delicada com relação a legislação trabalhista e tributária. Isso interfere diretamente nos custos da empresa e por consequência no preço dos produtos oferecidos. Básico, não? Quando passamos para números, a questão se torna um pouco mais dramática, os custos com salário giram em torno de 70% da média de custos da empresa. Ou seja, apenas 30% estão relacionados a fornecedores e serviços básicos.

E o que você tem com isso? Bem, se você foi desligado em uma redução de custos na crise (uma vez que nossa legislação trabalhista não permite redução salarial sem redução de jornada), existe grande probabilidade de você precisar repensar sua expectativa salarial para se recolocar.

Por isso, faça as contas, entenda o quanto pode ser reduzido e avalie a oportunidade a longo prazo. A crise não será eterna e colher os frutos de um forte empenho, com uma redução financeira, dependerá apenas da sua disposição.

Se você está empregado, esteja disposto a continuar ganhando por um, trabalhando por dois. Isso também poderá ser recompensado quando a crise passar.

Estatisticamente falando, a tendência é alcançar a média. Portanto, se chegamos no fim da linha, só nos resta subir.

Dica: se você não entende de Economia, vale a leitura de "Economia para Leigos" da editora Alta Books. Ele foi muito utilizado para a confecção deste texto. 


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